Exposição “Cem Anos Luz” traz a trajetória de Luz del Fuego para o Arquivo Público
"Num mundo que está progredindo dia a dia, os preconceitos continuam amarrados a um poste" afirma a capixaba Dora Vivacqua, a Luz del Fuego, na publicação “A Verdade Nua” na qual lança as bases das suas ideias sobre o naturismo. Luz del Fuego causou impacto na década de 1950 e apesar das tentativas de silenciá-la – que incluíram duas internações em instituições psiquiátricas e a destruição dos exemplares do seu livro – ela atingiu o seu intento “(...) fazer-se lembrar mesmo após 50 anos”. Para trazer à cena a sua trajetória será aberta na quarta-feira (15), às 18h30, pelo Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES), em parceria com a produtora Interferência Filmes, a exposição “Cem Anos Luz” com fotografias, exibição de documentário e mesa redonda.
Ricardo Sá, diretor do filme “Tia Dora” que será apresentado no evento, explica que as imagens que irão compor a Mostra Fotográfica foram selecionadas em pesquisas feitas por ele nos Arquivos Públicos de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, no Arquivo Nacional, na Biblioteca Nacional e na Cinemateca Brasileira, permitindo traçar um panorama sobre a vida da artista. “Fiz essa busca motivado pelo interesse na personalidade de Luz del Fuego e em promover a memória desta mulher que fez história” afirma Ricardo. O “Tia Dora” é um desdobramento do documentário “Divina Luz”, contemplado pelo edital da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) de 2015. Nele são reunidos depoimentos de sobrinhos de Luz del Fuego junto a imagens que ilustram o cotidiano de uma das capixabas mais famosas do mundo.
Para discutir o tema “A contribuição de Luz del Fuego para o naturalismo e o feminismo no Brasil” será realizada durante a abertura da exposição uma mesa redonda com a participação de Ricardo Sá, da sobrinha de Dora Vivacqua, Ana Rita Novaes, da educadora popular Edna Calabrez Martins e do conselheiro consultor da Federação Brasileira de Naturismo, Evandro Telles. Também será feita uma homenagem pela jornalista Gerusa Contti, que irá declamar um poema.
Luz del Fuego: mulher que marcou época
Nascida em Cachoeiro de Itapemirim, em uma tradicional família de políticos, Luz del Fuego – o nome adotado provém de uma marca de batom argentino - desde criança mostrava-se diferente ao não aceitar as imposições a ela direcionadas e emitia opiniões contundentes sobre o casamento, o divórcio e a liberdade da mulher em um período no qual, em muitos casos, o matrimônio e a maternidade eram tidos como a destinação natural feminina.
Encantou-se muito nova por um serpentário e teve a certeza de que um dia se apresentaria com cobras, o que realmente fez. A primeira delas foi uma jiboia encomendada a um fazendeiro mato-grossense. Mantinha-as como animais de estimação, soltas em sua casa, apesar de afirmar ter sofrido 120 mordidas. As suas aparições nos teatros e circos, inicialmente no Rio de Janeiro e depois em todo o país, causavam furor. Junto com o sucesso vieram as perseguições por parte da censura e da polícia.
Fotografia: Arquivo Público do Estado de São Paulo
Após intensa carreira nos palcos dedicou-se aos seus ideais naturistas. Para torná-los mais populares tentou fundar o “Partido Naturalista Brasileiro”, cujo slogan era “Menos roupa e mais pão. Nosso lema é ação”. A criação do partido e a sua candidatura à deputada não ocorreram, uma vez que a lista de assinatura perdeu-se em condições misteriosas que envolveram até um acidente aéreo.
Na década de 1950 ela funda o primeiro clube naturalista brasileiro na “Ilha do Sol” no Rio de Janeiro. O local tinha registro na Federação Internacional Naturalista da Alemanha e alcançou, em sua fase áurea, a marca de 240 sócios pagantes, entre eles governadores, ministros, militares de alta patente, milionários, estrelas do cinema e turistas de todo o mundo, que só podiam permanecer na ilha se estivessem completamente sem roupa. Aos 50 anos ela foi assassinada, junto com o caseiro, por dois homens que ela havia denunciado à polícia por ações criminosas na região da Ilha.
Sobre a sua relação com a liberdade e a natureza Luz del Fuego comenta em seu livro “Não se necessita de grande poder de observação para notar a diferença entre uma pessoa criada no confinamento de quatro paredes e outra vivendo ao ar livre, respirando a plenos pulmões um ar rico em azoto e oxigênio, cheirando a sol, exteriorizando saúde e vida por todos os poros; e já nas atitudes, já no olhar, deixando entrever uma felicidade inata, uma ventura, que é finalmente a razão de ser mais provável da nossa vinda à objetivação humana”.
Serviço:
Abertura da Exposição “Cem anos Luz”
Dias: de quarta-feira (15) a 17 de maio.
Horário: 18h30
Local: sede do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. Endereço: Rua Sete de Setembro, 414, Centro, Vitória.
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Jória Motta Scolforo
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