04/07/2016 14h20

A história da Ação Integralista Brasileira no acervo do Arquivo Público

A história da Ação Integralista Brasileira no acervo do Arquivo Público

04/09/2015

Um importante tema do desenrolar da história política capixaba é a atuação da Ação Integralista Brasileira (AIB) no Espírito Santo, que sediou o I Congresso Nacional do partido em março de 1934. Na ocasião, os chamados “camisas-verdes” ocuparam a Praça Costa Pereira, no Centro de Vitória, e seguiram para o Theatro Carlos Gomes, onde o evento aconteceu. No Fundo do acervo documental da Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS), do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES), diversos materiais apreendidos na época permitem adentrar na trajetória da AIB e no alcance das suas atividades no Estado.

No dia 27 de fevereiro de 1934 partiu do Rio de Janeiro um trem com centenas de militantes e dirigentes, que ocuparam dois vagões com bandeiras e letreiros. A comitiva, sob a liderança de Plínio Salgado, foi recebida com entusiasmo pelo núcleo local. O historiador Pedro Ernesto Fagundes, no artigo “Os integralistas no Estado do Espírito Santo”, traz um panorama sobre a origem e organização da AIB e as suas ações no âmbito estadual. Conforme descreve, Plínio Salgado entrou no teatro e foi saudado por integralistas de todo o país. As palavras de ordem “Deus, Pátria e Família” eram constantemente evocadas e um grande painel trazia os dizeres: “Pelo bem do Brasil: Anauê”.

Olbiano de Melo, membro da direção nacional da organização, leu um documento que se tornaria fundamental para a história da AIB. “Tratava-se de um manifesto, assinado pelos delegados de todas as províncias integralistas, que aclamava o nome de Salgado como o único e insubstituível chefe dos ‘camisas-verdades’ do Brasil”, afirma Pedro.

A ascensão de Plínio Salgado em Vitória, segundo o historiador, foi um momento no qual a política adquiriu características de um verdadeiro espetáculo de poder, cujo objetivo era criar a figura de chefe nacional que, com o passar do tempo, adquiriu status de onipresença. O líder viria a encarnar a própria identidade do partido, cujas características marcantes eram a fidelidade ao chefe e o repúdio às dissidências e tendências.

Ação Integralista Brasileira

Adotando o modelo das organizações fascistas, sobretudo da Itália, os integralistas seguiam uma série de rituais e normas. Estavam organizados em milícias e realizavam desfiles e marchas de caráter militar. A palavra de origem tupi-guarani “anauê” era usada como saudação e deveria ser feita com o braço direito esticado. Existiam ainda as “bandeiras” ou “caravanas”, que tinham o objetivo de divulgar as ideias do movimento e ampliar as atividades.

De acordo com Pedro Ernesto, após a consolidação em São Paulo, iniciou-se uma forte expansão por outras regiões. No segundo semestre de 1933 foram criados os primeiros núcleos da “Província Integralista Capixaba”. A militância era formada, principalmente, por agricultores, funcionários públicos e profissionais liberais. Entre novembro de 1935 e fevereiro de 1936 concorreram com legenda própria no pleito municipal. Foram eleitos 26 vereadores e dois prefeitos, os de Santa Teresa e Domingos Martins.

A partir do surgimento da Aliança Nacional Libertadora (ANL), uma frente antifascista, uma série de embates aconteceram. “Ocorreram enfrentamentos de rua entre militantes integralistas e aliancistas no estado, resultando até mesmo em mortes. O conflito mais violento ocorreu na estação ferroviária de Cachoeiro de Itapemirim, em novembro de 1935” destaca.

A polarização entre integralistas e grupos antifascistas e suas consequências foram o pretexto para o presidente Getúlio Vargas intensificar os atos repressivos com a criação de uma série de órgãos voltados para manter a lei e a ordem. Ações estas que também atingiram o Espírito Santo, que recebeu uma Delegacia de Ordem Política e Social. “Esse órgão concentrou sua estrutura de vigilância, controle e repressão de indivíduos, grupos e organizações de caráter ideológico, com destaque aos militantes da AIB e da ANL” explica.

Após o estabelecimento da chamada Ditadura do Estado Novo (1937 – 1945), mesmo com o apoio inicial dado a Vargas, foi decretado o fechamento do partido, bem como de todos os outros. O Decreto Lei nº37/1937 passou a vetar qualquer utilização de uniformes, insígnias, símbolos e gestos das antigas agremiações partidárias. Com isso, chegou ao fim o sonho de conquistar o poder de Plínio Salgado e seus seguidores. As tentativas de retomada, até mesmo com luta armada, foram duramente reprimidas pelas forças de segurança do governo e resultaram na perseguição e prisão de centenas de pessoas.

Para Pedro Ernesto Fagundes, a trajetória da AIB no Estado deixou profundas marcas e o resgate, da ainda pouco conhecida e estudada memória dos “camisas-verdes”, é fundamental para a compreensão da história política do Espírito Santo.

Fundo DOPS

O Fundo DOPS é composto por 80 caixas de documentos da Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS/ES) e aproximadamente 20 mil fichas de identificação, com informações sobre indivíduos e instituições. O acesso é irrestrito e a consulta pode ser solicitada na sede do Arquivo Público.

Informações à imprensa:
Arquivo Público do Estado do Espírito Santo
Jória Motta Scolforo
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