18/01/2019 15h30

A memória do Ticumbi no acervo do Arquivo Público

A vila de Itaúnas, em Conceição da Barra, recebe neste final de semana um dos mais tradicionais eventos da cultura popular do Estado, a “Festa de São Benedito e São Sebastião”, que irá reunir grupos de Ticumbi, Reis de Bois, Jongo, Alardo e Roda de Capoeira. No acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES) há diversos documentos que trazem à cena estas práticas culturais, promovendo a guarda e a preservação da memória do folclore. Dentre eles, estão fotografias, abrangendo os anos de 1951 a 1989, filmes, negativos e livros.

O professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Oswaldo Martins de Oliveira, destaca em artigo do livro “Negros do Espírito Santo” que o Ticumbi é uma referência cultural e celebração festiva afro-brasileira específica do Estado, embora mantenha relações e semelhanças com outros bens culturais afro-brasileiros. “Trata-se de uma dança que acontece, segundo a memória e a genealogia de seus integrantes, há mais de 200 anos na região Norte capixaba” afirma.

Ele explica que o baile é definido pelos dançantes como uma tradição proveniente do continente africano recriada nas senzalas, quilombos e posteriormente, nas comunidades da vila de Itaúnas e da cidade de Conceição da Barra. “Os integrantes do baile, sob a liderança de um mestre, ensaiam dois meses no mato ou na roça e, entre os dias 30 de dezembro a 20 de janeiro, realizam as suas festas e apresentações em homenagem a São Benedito, seu santo padroeiro” ressalta.

A dança é um ritual que representa uma guerra entre o Rei do Congo e o Rei de Bamba e seus secretários ou embaixadores. A batalha é vencida pelo Rei do Congo, uma vez que o Rei de Bamba é interpretado, segundo o autor, como os inimigos da cultura negra e os expropriadores dos territórios quilombolas, transformando-se em um simbolismo de mobilização em favor da autonomia e dos ideais de liberdade.

Pesquisas sobre as práticas culturais afro-brasileiras

A trajetória histórica dos negros no Espírito Santo e algumas das suas principais práticas culturais, dentre elas o Ticumbi, o Congo e o Jongo, podem ser pesquisadas na publicação da Coleção Canaã do APEES, o livro “Negros no Espírito Santo”, de Cléber Maciel, organizado por Oswaldo Martins de Oliveira. A obra está disponível para download gratuito no link:  https://ape.es.gov.br/colecao-canaa. Em 2018, a terceira edição da “Revista do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo” teve como dossiê o tema “Africanidades Transatlânticas”, com artigos acadêmicos que abordaram recentes estudos afro-brasileiros. Ela pode ser acessada em: https://ape.es.gov.br/Media/ape/PDF/Revista_APEES_numero_3.pdf. As fotografias e demais materiais podem ser pesquisados na sede do APEES, localizada à Rua Sete de Setembro, 414, no Centro de Vitória.

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