11/05/2016 17h08

Arquivo Público recebe acervo sobre as salas de cinema do Espírito Santo

Nas salas de cinema muitas sensações já foram vividas: os risos provocados pelas comédias, o medo nas cenas de terror ou a angústia na identificação com situações da própria vida. Há também o espanto ao se assistir o primeiro filme, os encontros escondidos e o deslumbramento diante das imagens.

Buscando rememorar as lembranças que constituem a prática de ir ao cinema, o projeto “Cine Memória”, do Departamento de Arquivologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) reuniu um significativo acervo constituído por materiais iconográficos, textuais e audiovisuais. A documentação, em formato digital, foi doada ao Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES) e está disponível para consulta. O trabalho abrange os anos de 1896 a 2013 e foi financiado pelo Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), da Secretaria de Estado da Cultura (Secult).

O coordenador do projeto, o professor da Ufes André Malverdes, explica que ao fazer uma pesquisa sobre os cinemas capixabas encontrou poucas informações referentes ao tema. Com isso, decidiu localizar e organizar documentos dos antigos frequentadores e proprietários. Percorreu também instituições públicas, como bibliotecas, o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), o APEES e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em busca de materiais. Os documentos foram digitalizados e devolvidos aos acervos públicos e privados aos quais pertenciam e deram origem ao “Inventário Analítico Cine Memória: as salas de cinema do Espírito Santo”.

História do Cinema Capixaba

As primeiras exibições de cinema no Brasil ocorreram na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, no ano de 1896. Segundo dados do livro “No escurinho do cinema”, de André Malverdes, que relata a história das salas do Espírito Santo, o Teatro Melpômone, localizado na Praça Costa Pereira, no Centro de Vitória, foi o primeiro do Estado a equipar-se com o maquinário do cinematógrafo, em 1901. Malverdes divide a história do cinema capixaba em três principais momentos. O primeiro, abrangendo os anos de 1907 a 1930, constitui o período no qual os filmes eram curtos e mudos, com apresentações em parques e teatros. Nessa época pianos e orquestras realizavam ao vivo as trilhas sonoras das imagens ainda sem som.

 

Dentre os anos de 1930 a 1975, as salas se expandiram pelos bairros e também pelo interior. Na década de 1950 a cidade de Vitória chegou a ter 11 cinemas. Ao todo o Estado possuía 144. Diversos fatores levaram, posteriormente, a uma redução do público, resultando no fechamento de muitas salas. Dentre os motivos Malverdes aponta a popularização da televisão e do vídeo-cassete e as crises econômicas.

O Projeto “Cine Memória” permite, nas palavras de Malverdes, “situar através das fontes o cinema na sua relação com a história da cidade”. Nas imagens do acervo, diversos aspectos curiosos quanto à incorporação das salas ao cotidiano são observados. Podem-se destacar as festas de inauguração com a presença de atores famosos e políticos; a benção dos padres aos novos cinemas e a grande capacidade de público - o de Santa Cecília, no Centro de Vitória, comportava 1,5 mil pessoas. Em Baixo Guandu, em um evento de abertura, o dono de um cinema saltou de pára-quedas no meio da comemoração.

“O trabalho compreende os ‘cinemas de calçada’ que existiram no decorrer do século XX. Quando se pensa nas salas de exibição todos têm algo a falar. Trata-se de um tema que provoca um envolvimento emocional muito grande. O cinema aguça a memória do primeiro beijo, do barulho da chuva no telhado de zinco, do som da sirene iniciando a sessão e das luzes se apagando devagar. Essas percepções, em seu conjunto, possuem um significado e permitem trazer à cena os sentimentos de uma cidade que não existe mais” afirma Malverdes.

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