21/02/2017 14h20

Cem anos de Luz del Fuego: trajetória e liberdade da mulher que marcou época

“Justamente porque faço tudo o que tenho em mente, realizo as coisas que mais desejo, ponho em prática as teorias que julgo acertadas, é que me censuram. Tiro da vida o que ela pode me dar de bom, agradável e útil”. A citação é da capixaba Dora Vivacqua, a Luz del Fuego, na publicação “A Verdade Nua” na qual lança as bases das suas ideias sobre o naturismo. Nesta terça-feira (21) completam-se 100 anos do nascimento da mulher que marcou e agitou a década de 1950. O impacto que suas atitudes causaram e ainda provocam legaram, muitas vezes, a sua história ao esquecimento. Para trazer à cena a sua trajetória será aberta em março, pelo Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES), em parceria com a produtora Interferência Filmes, a exposição “Cem Anos Luz”, com fotografias e exibição de documentários.  

Vida e Polêmicas

“Amada pelo povo e odiada pelos moralistas, Luz descobriu na legenda do escândalo o caminho mais curto para a fama”, destacam Cristina Agostinho, Branca de Paula e Maria do Carmo Brandão, na biografia “Luz del Fuego: A Bailarina do Povo”. Nascida em Cachoeiro de Itapemirim, em uma tradicional família de políticos, Luz del Fuego – o nome adotado provém de uma marca de batom argentino - desde criança mostrava-se diferente ao não aceitar as imposições a ela direcionadas e emitia opiniões contundentes sobre o casamento, o divórcio e a liberdade da mulher em um período no qual, em muitos casos, o matrimônio e a maternidade eram tidos como a destinação natural feminina.

Encantou-se muito nova por um serpentário e teve a certeza de que um dia se apresentaria com cobras, o que realmente fez. A primeira delas foi uma jiboia encomendada a um fazendeiro mato-grossense. Mantinha-as como animais de estimação, soltas em sua casa, apesar de afirmar ter sofrido 120 mordidas. As suas aparições nos teatros e circos, inicialmente no Rio de Janeiro e depois em todo o país, causavam furor. A sua inspiração veio da leitura de um livro que trazia a história das mulheres da Macedônia que dançavam com serpentes enroladas.

“A primeira metade dos anos cinquenta foram os anos de Luz del Fuego. Todos conheciam a vedete que enlouquecia o Brasil (...) e ocupava frequentemente as manchetes de jornais e revistas. Fosse nas seções de espetáculos, fosse nas páginas policiais, seu nome sempre estava lá. A exótica Luz del Fuego era garantia certa de bilheteria. Principalmente nos sábados à tarde, quando a plateia era composta, em sua maioria, de fuzileiros navais, estivadores, guardas-civis e pequenos funcionários (...). Suas apresentações levavam as galerias ao delírio”, destaca a biografia.

Junto com o sucesso vieram as perseguições por parte da censura e da polícia. “Acusada de atentado ao pudor, muitas vezes multada e submetida a interrogatórios em delegacias de costumes, Luz jamais se intimidava. Ia para as rádios e praças públicas denunciar as pressões sofridas”. Após intensa carreira nos palcos dedicou-se aos seus ideais naturistas. Para torná-los mais populares tentou fundar o “Partido Naturalista Brasileiro”, cujo slogan era “Menos roupa e mais pão. Nosso lema é ação”. A criação do partido e a sua candidatura a deputada não ocorreram, uma vez que a lista de assinatura perdeu-se em condições misteriosas que envolveram até um acidente aéreo. Aos 50 anos Luz del Fuego foi assassinada a pauladas, junto com o caseiro, por dois homens que ela havia denunciado à polícia por ações criminosas. Apesar das tentativas de silenciá-la – que incluíram duas internações em instituições psiquiátricas e a destruição dos exemplares do seu livro – ela atingiu o seu intento “(...) fazer-se lembrar mesmo após 50 anos”.

A Nativa Solitária

O documentário “A Nativa Solitária”, de 1954, no qual homens e mulheres dançam e brincam nus na Ilha do Sol, o primeiro clube naturista brasileiro fundado por Luz del Fuego, faz parte do acervo do Arquivo Público. O local tinha registro na Federação Internacional Naturalista da Alemanha e alcançou, em sua fase áurea, a marca de 240 sócios pagantes, entre eles governadores, ministros, militares de alta patente, milionários, estrelas do cinema e turistas de todo o mundo, que só podiam permanecer na ilha se estivessem completamente sem roupa.

O filme foi localizado em estado de deterioração. Após ser restaurado foi encaminhado ao APEES para a sua guarda. É desconhecida a existência de alguma cópia do original, o que confere à obra uma grande relevância e raridade. Visando à ampliação do acesso e à preservação foi feita em 2016 a remasterização da película, a conversão para HD e o tratamento das imagens.

Informações à imprensa:

Arquivo Público do Estado do Espírito Santo

Jória Motta Scolforo

3636-6117/99633-3558

comunicacao@ape.es.gov.br

Facebook:Arquivo Público do Estado do Espírito Santo

Instagram:ArquivoPublicoES

2015 / Desenvolvido pelo PRODEST utilizando o software livre Orchard