16/05/2016 13h59

Documentos do Arquivo Público trazem a história da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo

A Revista “Espírito Santo Agora”, em reportagem do ano de 1979, descreve o percurso da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo, que fazia o transporte de passageiros e mercadorias da cidade de Vitória a Cachoeiro de Itapemirim:“Duzentos quilômetros de trilhos que cortam pontes, túneis escavados nas pedras, rios, matas e precipícios é o que pode nos oferecer uma viagem a Cachoeiro pela estrada Leopoldina”. O trajeto demorava em média 10 horas para ser realizado, porém, segundo a publicação, a própria lentidão do trem auxiliava um melhor desfrutar de toda a variedade paisagística que a linha oferecia.

Esse e outros documentos do acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES) permitem contar a história da ferrovia que há mais de um século faz parte do cotidiano, dos embates políticos e da economia capixaba. O empreendimento esteve sob jurisdição estadual dos anos de 1892 – início da construção - até 1907, quando o controle foi transferido à Leopoldina Railway. A região pela qual passa corresponde hoje aos municípios de Vila Velha, Cariacica, Viana, Domingos Martins, Marechal Floriano, Alfredo Chaves, Vargem Alta e Cachoeiro de Itapemirim.

O tombamento da ferrovia como patrimônio histórico está sendo discutido pelo Governo do Estado, prefeituras municipais, lideranças e as comunidades. Em uma audiência junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), na próxima terça-feira (27), em Brasília, serão apresentadas propostas. Na ocasião, um documento sobre a importância da ferrovia para o Espírito Santo será protocolado.

História

Por meio do trabalho de Leandro Carmo Quintão, na dissertação de mestrado “A interiorização da capital pela Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo”, é possível apreender o histórico da construção e as motivações para a sua realização. Segundo o autor a gênese do projeto era “(...) transformar Vitória em uma importante praça comercial para a região através da ligação de seu porto com o interior capixaba e mineiro”.

Leandro destaca que a implantação de vias férreas no Estado esteve estreitamente atrelada ao café. Os primeiros planejamentos e projetos de ferrovias no Espírito Santo remetem à década de 1870, porém, não obtiveram sucesso. Foi no Governo de José de Mello Carvalho Moniz Freire que foi inaugurado, em julho de 1895, o primeiro trecho ligando o Porto de Argolas, em Vila Velha, a Viana.

Nos governos posteriores as obras tiveram continuidade, sendo interrompidas diversas vezes por problemas econômicos, divergências políticas e dificuldades relacionadas à mão de obra. Após a inauguração em 1902 das estações de Araguaia e Engenheiro Reeve a construção foi paralisada, sendo retomada apenas com a incorporação da companhia pela Leopoldina Railway em 1907, empresa esta formada em 1898 por credores ingleses da Estrada de Ferro Leopoldina. A alienação do empreendimento provocou intensos debates, que chegaram até a esfera do Congresso Nacional.

Leandro explica que a obra terminou oficialmente em 1910,após a finalização das estações de Engano, Guiomar, Vargem Alta e Sortuno. O Espírito Santo, a partir de então, teve quase 500 quilômetros de ferrovias, sendo aproximadamente 160 correspondentes ao Ramal Sul. Nas palavras do autor: “O fato de o primeiro projeto ferroviário ter se materializado na Região Sul capixaba não se deu por acaso. Ao longo da segunda metade do século XIX, essa área passou a se destacar pelo crescente incremento na produção cafeeira, produto esse que, em conformidade com tais valores, consolidava-se como o líder absoluto na pauta de exportações e respondia pelos primeiros saldos positivos na receita provincial”.

Atualmente o Ramal Sul faz parte da companhia particular Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) e muitos trechos estão desativados.

Imigrantes

Um dos maiores entraves para a construção da ferrovia foi a necessidade de mão de obra especializada. Por isso, vieram ao Estado imigrantes estrangeiros para a realização dos trabalhos. Documentos do acervo do APEES, pertencentes ao Fundo Governadoria, mostram a troca de correspondências entre o Governador Moniz Freire e o cônsul italiano no que se refere ao não cumprimento do contrato e à cobrança do pagamento dos operários. De acordo com informações do “Projeto Imigrantes”, 861 pessoas atuaram na implantação da estrada de ferro, a maioria homens sozinhos, que chegaram ao Brasil nos anos de 1895 e 1896. Destes, 849 eram italianos e 12 portugueses.

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