O folclore no acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo
Entre os documentos que podem ser encontrados sobre o tema no Arquivo estão fotografias, filmes, negativos e livros.
O Dia do Folclore, comemorado nesta quinta-feira (22), homenageia as tradições e saberes populares. O pesquisador Guilherme Santos Neves, um dos principais estudiosos do folclore do Espírito Santo, afirma no prólogo do livro “Coletânea de Estudos e Registros do Folclore Capixaba”, que o Estado tem um variado e opulento acervo de práticas culturais, provenientes do recebimento e adaptação dos costumes do colonizador português, da contribuição negra da África, da presença nativa dos índios e do convívio com os imigrantes.
No acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (Apees) há diversos documentos que trazem à cena estas manifestações, promovendo a guarda e a preservação da memória do folclore. Dentre eles, estão fotografias, filmes, negativos e livros.
O Ticumbi e a cultura do norte capixaba
Dentre as tradições destaca-se o Ticumbi, que é uma referência cultural e celebração festiva afro-brasileira específica do Espírito Santo. Trata-se de uma dança dramática que, segundo Santos Neves, tem o seu enredo e se desenvolve em uma repetição de bailados e cantos, representando uma guerra entre o “Rei do Congo” e o “Rei Bamba” e seus secretários ou embaixadores. Os participantes vestem-se a caráter, com batas brancas e rendadas, fitas coloridas e gorro enfeitado de flores de papel de seda.
A história do auto refere-se a dois negros que querem fazer, cada qual e separadamente, a festa de São Benedito. Por não haver um acordo trava-se uma guerra, na qual os reis batem as espadas cadenciadamente, junto com os seus secretários que também participam do combate. A batalha é vencida pelo Rei do Congo e o Rei Bamba é submetido ao batismo. A celebração finaliza-se com uma festa em honra ao ganhador.
“Como se vê, há danças e cantos no Ticumbi. As danças são volteios dos guerreiros, no combate gingado. Os cantos – alternados com as falas dos reis e dos embaixadores – são entoados, em conjunto, pelos guerreiros das duas hostes, ao som dos pandeiros e chocalhos e da viola que dá o tom”, relata o pesquisador.
Segundo o folclorista, um aspecto interessante a se notar nessa tradição popular é que ela se configura em verdadeiros registros, falados ou cantados, de acontecimentos ocorridos no local, no Brasil ou no mundo. Sendo assim, aquilo que tenha surpreendido o mestre do Baile é por ele destacado nos cânticos e nas falas proferidas na dança guerreira. “Sob este aspecto o Ticumbi é como um ‘jornal cantado’ de fatos e ocorrências que impressionaram o poeta popular e seu agrupamento social”, ressalta Santos Neves.
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Fotografias: apresentação do Ticumbi em Conceição da Barra, 1950. "Coleção Ticumbi".