Revista “Vida Capichaba” traz primeiras publicações das mulheres na imprensa do Espírito Santo
A revista “Vida Capichaba” – publicação de maior expressividade e circulação da imprensa do Espírito Santo no período de 1923 a 1954 - foi pioneira no Estado na divulgação de textos escritos por mulheres. Nela as intelectuais capixabas se posicionaram frente aos debates sobre o feminismo e promoveram reflexões quanto à participação das mulheres na política. O material faz parte do acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES) e pode ser consultado na sede da Instituição, localizada na Rua 7 de Setembro, no Centro de Vitória.
A historiadora Lívia de Azevedo Vieira Rangel, na dissertação de mestrado “Feminismo Ideal e Sadio: os discursos feministas nas vozes das mulheres intelectuais capixabas”, afirma que as capixabas exploraram as possibilidades fornecidas pela mídia impressa para dar amplitude as suas opiniões, projetos e expectativas de emancipação. A revista “Vida Capichaba” foi um desses espaços de debate e trazia um considerável número de artigos, notas e ensaios sobre o feminismo.
Dentre as abordagens presentes na revista Lívia destaca os textos “Feminismo Ideal e Sadio”, escrito pela professora Carolina Pickler e “A Mulher e o Voto”, de Judith Leão Castello, primeira deputada eleita no Estado. Sobre a participação feminina na imprensa expõe “(...) Foi a partir da construção dos novos ambientes de lazer, do surgimento de meios de comunicação, da ampliação das esferas de atuação e improvisação femininas que as mulheres capixabas puderam articular suas ideias. Nesse contexto, elas estavam deixando de atuar somente nos espaços prescritos – como mães, esposas e donas de casa - para se projetarem nos espaços conquistados, entendidos como aqueles campos coibidos às mulheres, de maneira implícita ou declarada”.
Conforme identificado pela historiadora foram três os principais assuntos da publicação no que se refere ao feminismo: o direito de voto e de elegibilidade; a participação feminina no trabalho e o acesso amplo e de qualidade à educação. A discussão que envolveu maior polêmica foi quanto ao “direito político da mulher”, sobre o qual foram publicados diversos textos favoráveis ou contra. Com isso, Lívia argumenta que a revista oportunizou reflexões sobre a atuação da mulher na sociedade capixaba. “A minha pesquisa teve por objetivo tornar menos invisíveis essas ações e as falas dessas mulheres pioneiras nas letras, na política e, sobremaneira, na luta pela emancipação feminina, nos anos iniciais do século XX” comenta.
Revista Vida Capichaba
A revista “Vida Capichaba” foi lançada em 1923 e, durante o período no qual circulou, foi o veículo mais relevante da imprensa local. Jadir Pestanha Rostoldo, em “Vida Capichaba: o retrato de uma sociedade” afirma que nessa época havia uma forte ligação entre a imprensa e a literatura, o que pode ser apreendida por meio da leitura dos artigos do material. A publicação era inicialmente quinzenal com textos literários, informações sobre o Estado, o Brasil e o mundo e colunas sociais. “A revista trazia o melhor do jornalismo e das letras capixabas e se constitui importante fonte de informações sobre a época, influenciando a imprensa posterior” afirma.