A Revista “Vida Capichaba” e a representação do carnaval
Colombinas, pierrots, palhaços, marinheiros e bailarinas eram alguns dos elementos que anunciavam o carnaval nas capas da Revista “Vida Capichaba”– publicação de maior destaque e circulação no Espírito Santo no período de 1923 a 1954. As imagens utilizadas, assim como a expressão dos personagens retratados, possibilitam análises sobre a época e o seu contexto. O impresso faz parte do acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES).
Inicialmente quinzenal, a “Vida Capichaba” era composta por textos literários e jornalísticos, matérias locais, do país e do mundo, artigos e colunas sociais, sendo uma importante fonte de informações históricas. A monografia “Estudo estético-social das capas da Revista ‘Vida Capichaba’”, de Dyana de Souza Brun e Ivana de Araújo, propõe refletir a forma como as características das capas mostram aspectos da sociedade na qual elas se inseriam. O carnaval foi um dos pontos escolhidos para a pesquisa, uma vez que diversas edições abordam o tema e nelas podem-se apreender referências à queda da bolsa de valores de Nova Iorque, a redemocratização em 1945, a guerra e o pós-conflito.
A ilustração de fevereiro de 1929, por exemplo, traz um Pierrot cabisbaixo e solitário. Era uma ocasião de grave crise econômica, que assolava os Estados Unidos com reflexo no Brasil, pois a produção agrícola era voltada à exportação. Situação que se repete na capa de 27 de fevereiro de 1930, na qual o desânimo e a tristeza são destacados, em oposição à alegria e diversões típicas da data.
As capas dos anos de 1947 e 1949, por sua vez, mostram personagens alegres e com fantasias americanizadas. É o período pós-guerra, no qual a Europa encontra-se destruída e os Estados Unidos emergem, como potência mundial, influenciando a cultura global. “Os representantes do carnaval, Pierrot e Colombina, não estão mais vestidos de palhaço e dama. Pierrot está de marinheiro e a Colombina, em sua saia, traz as estrelas da bandeira americana”. O ideal de beleza mostrado é o padrão visto no cinema hollywoodiano.
Para as autoras é clara a reprodução dos modelos estéticos europeus e norte-americanos. As capas apresentadas, assim como as demais analisadas, apontam para uma representação dos sentimentos, angústias ou otimismo que permeavam o momento histórico. Com isso, os acontecimentos nacionais ou do exterior eram reproduzidos na escolha das figuras e transmitiam a alegria e a insegurança ou a diversão e o desânimo do seu tempo.
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Jória Motta Scolforo
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