Aos amantes do Carnaval: jornais do século XIX anunciam os bailes e o desfile dos mascarados
“Estão próximos os dias para os divertimentos carnavalescos, preparem seus bons trajes e ginetes para os passeios mascarados e os competentes bailes”: comunica o jornal Correio da Victoria em 12 de janeiro de 1870. Diversos outros anúncios informavam à população os preparativos e a programação dos eventos. Por meio deles pode-se conhecer melhor as características dos carnavais que agitavam a cidade e envolviam os moradores nos desfiles, na compra das fantasias e nas serpentinas dos salões. O periódico faz parte da coleção “Imprensa Capixaba” do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES).
A historiadora Fabíola Martins Bastos, na dissertação de mestrado “Relações Sociais, conflitos e espaços de sociabilidades: formas de convívio no município de Vitória”, destaca algumas das características dos carnavais da época: “Os habitantes da cidade e os convidados de outras freguesias do município tinham o hábito de usar as máscaras também fora dos salões, nas ruas e nas praças da capital. Tudo parecia motivo para festejar. Em todos os dias, pela tarde, e especialmente aos domingos, as pessoas colocavam máscaras e saíam pela cidade a pé. Não se falava em outra coisa.”
Em 13 de fevereiro de 1870, sob título “Passeio Mascarado”, o jornal traz a descrição dos festejos, permitindo trazer à cena as lembranças dos carnavais antigos. Afirma-se que “Dom Guido” e “Dom Sancho Pança” sairiam, às 14 horas, anunciando com seus clarins a reunião para o início das festas. Às 15 horas todos os “senhores máscaras” deveriam se dirigir decentemente vestidos à casa da Rua São Francisco para subirem em passeio pela cidade. O “baile masquê” seria às 20 horas. No outro dia os “divertimentos mascarados” durariam das 9 às 18 horas, com baile à noite. Já no dia 1º de março ocorreriam passeios com músicas e o enterro dos ossos com o “Deus Momo” pelas ruas. O baile principiaria às 21 horas com término às 5 da manhã, com a dança “galope infernal”. No Sábado de Aleluia e no Domingo da Ressureição ocorreriam diversões com máscaras e bailes, finalizando o Carnaval.
As lojas avisavam a chegada de adereços para a venda, provenientes até de Paris. Um anúncio de 18 de fevereiro de 1870, por exemplo, traz a seguinte informação: “A Fama da Barateza recebeu no último vapor máscaras de arame, seda, papelão (com barba), assim como calças de meia, cor de carne, com pé”.
Leitores aflitos, com medo do Carnaval ficar no esquecimento, pagavam pela publicação de uma pequena carta questionando sobre a realização da festa, conforme observa-se no texto de 25 de janeiro de 1872: “Pedimos encarecidamente ao senhor encarregado há muitos anos de preparar o salão para o baile, que nos informe se teremos ocasião de nos divertirmos no mesmo salão (…). Ass: amantes do Carnaval”.
Imprensa Capixaba
No site do APEES, no link www.ape.es.gov.br/imprensa_capixaba/index.html, pode-se ter acesso à coleção “Imprensa Capixaba”. Ao todo são 72 periódicos de 13 municípios, publicados desde o ano de 1849.