Documentos do Arquivo Público são fontes de pesquisa sobre a colonização do solo espírito-santense
No dia 23 de maio de 1535 a caravela Glória, sob o comando de Vasco Fernandes Coutinho, atracava em Vila Velha. Nela estavam os portugueses que receberam a missão de colonizar o solo, provocando mudanças sociais, econômicas e políticas. A região, até então, era ocupada por indígenas, dentre eles os botocudos e puris. O acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES) é uma das principais fontes para estudos sobre o período colonial capixaba, que ainda são poucos e restritos.
O professor de História da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Luiz Cláudio M. Ribeiro, é um dos pesquisadores do período colonial. O material utilizado por ele nos estudos pertence ao acervo do Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal, localizado em Lisboa, cuja cópia microfilmada e digitalizada foi adquirida pelo APEES em 1998. Trata-se de uma documentação político-administrativa na qual há correspondências, requerimentos, ofícios, além de informações alusivas ao tráfico de escravos e às questões judiciárias e militares da colônia. Dentre os documentos, o mais antigo é uma carta precatória de 23 de abril de 1585.
Luiz Cláudio destaca que tem aumentado o interesse pela história colonial no Espírito Santo. “Temos pensado a época não apenas em sua constituição política, mas também como um momento de formação da sociedade capixaba. Sendo que esta não pode ser compreendida como um reflexo ou espelho da europeia. Existiam elementos e características que a marcavam e a especificavam”.
Segundo Luiz Cláudio a vontade de analisar o período surgiu ao fazer um trabalho sobre a história da alfândega no Espírito Santo e se deparar com uma lacuna em relação as informações. “O Espírito Santo foi a quinta capitania criada por Portugal, o que reforça a relevância dos estudos sobre o tema. Não podemos aceitar deixar de pensar a história colonial. Não podemos permitir que haja um vazio de dados sobre o assunto. Por isso iniciei um projeto de pesquisa chamado ‘Estado, comércio e navegação: um estudo da Capitania do Espírito Santo’, no qual propus uma pesquisa mais aprofundada”.
Para isso consultou no Arquivo Público o acervo Ultramarino de Portugal. “Busquei no inventário os materiais que poderiam contribuir para a pesquisa. Selecionei 41 manuscritos, um deles tinha 115 páginas, e iniciei, junto aos alunos da graduação, a atividade de paleografia, ou seja, a transcrição dos documentos”. O processo consistiu em utilizar a cópia digitalizada e, por meio do tratamento e ampliação das imagens, realizar a transcrição do conteúdo.
Estamos usando os documentos do Arquivo Público em diferentes estudos na Ufes, alguns com caráter inédito, dentre eles estão as abordagens sobre as relações de poder e as práticas de contrabando e a interiorização do Estado por meio dos rios. Tivemos ainda a primeira defesa de uma dissertação de mestrado sobre o comércio e a atividade mercantil na capitania do Espírito Santo. A disponibilização dos documentos motiva a pesquisa e a valorização da fonte”, explica.
Os dados sobre o acervo do Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal estão dispostos em um inventário, que pode ser consultado nos links:
http://www.ape.es.gov.br/PDF/Catalogo_Doc_Manuscritos_Portugal1.pdf
http://www.ape.es.gov.br/PDF/Catalogo_Doc_Manuscritos_Portugal2.pdf
Se o consulente tiver interesse no documento o APEES realiza a digitalização.