30/06/2016 15h01

Documentos do Arquivo Público trazem a história da Insurreição do Queimado

Documentos do Arquivo Público trazem a história da Insurreição do Queimado

Há 166 anos uma rebelião de escravos marcou a história do Espírito Santo. No distrito de São José do Queimado, na capital da Província, o frei italiano Gregório José Maria de Bene utilizou o trabalho de negros na construção de uma igreja, afirmando auxiliá-los posteriormente na conquista da liberdade. O não cumprimento da promessa desencadeou, no dia 19 de março de 1849, a maior revolta de resistência à escravidão ocorrida no Estado, a “Insurreição do Queimado”, liderada por Chico Prego, Elisiário e João da Viúva. Documentos e jornais da época, do acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES), trazem o desenrolar dos fatos e possibilitam pesquisas sobre o tema.

Queimado: uma história de resistência

Na missa de inauguração da igreja os líderes pretendiam, com o apoio do frei, exigir dos presentes a declaração da liberdade. Para isso adentraram no templo em grupo, provocando o abandono do pároco do altar e seu recolhimento em uma sala trancada. Aproveitando a comoção, os escravos percorreram as casas dos senhores e os obrigaram a assinar a alforria. Em carta, enviada posteriormente ao Ministro de Estado dos Negócios do Império, o presidente da província, Antônio José Siqueira, relata o ocorrido: “Ontem pelas três horas, soube que um grupo armado de trinta e tantos escravos perpetrara o crime de Insurreição no Distrito de Queimado, três a quatro léguas distante desta capital, invadindo a Matriz, na ocasião em que se celebrava a Missa conventual e levantando gritos de ‘Viva a Liberdade’, queremos ‘Carta de Alforria’”.

 Ao tomar conhecimento da rebelião o presidente enviou imediatamente a Queimado o chefe de polícia acompanhado de uma força de 20 praças, que combateram os revoltosos com extrema violência. Após o julgamento, seis foram absolvidos, cinco condenados à morte por enforcamento e 25 ao açoite.  No jornal “Correio da Victoria”, da coleção “Imprensa Capixaba” do APEES, é possível perceber a grande repercussão que os acontecimentos tiveram na época. São muitas as notícias, com conotação negativa, que relatam o “absurdo” da luta dos escravos pela liberdade, conforme se observa no seguinte trecho:

“O Excelentíssimo presidente da Província soube deste triste acontecimento e sem perda de tempo fez seguir para aquela povoação o chefe de polícia acompanhado de tropa convenientemente municiada. Estas providências fizeram com que ontem fosse batido dois grandes grupos daqueles criminosos que ou morreram ou fugiram em completa debandada. Em breve iremos anunciar ao público e aos nossos leitores, que a tranquilidade e segurança pública se acham inteiramente restabelecidas. Cautela e vigilância senhores fazendeiros! Para que no futuro não se repitam fatos semelhantes”.

Diversas outras páginas do jornal foram dedicadas a julgar o movimento e seus propósitos. Nesta nota percebe-se o espanto provocado pela ação: “A providência, que sempre nos tem protegido, acaba de livrar-nos do maior dos males, que nos podia oprimir, a Insurreição do Queimado. A audácia de alguns escravos, tanto da cidade quanto da roça, a maneira insolente como se portavam, os insultos que direcionavam aos homens livres, tudo denuncia a existência de um plano horroroso”.

A historiadora Lavínia Coutinho Cardoso, na dissertação de mestrado “Revolta Negra na Freguesia de São José do Queimado: escravidão, resistência e liberdade, no século XIX, na província do Espírito Santo”, destaca que o aniversário do Queimado é uma data a ser sempre lembrada como um marco referencial da luta dos negros contra a escravidão. “A dimensão que tomou o movimento está aliada ao fato de que poucas foram as revoltas e as insurreições escravas, na província do Espírito Santo, no século XIX, bem como ao fato do número considerável de escravos que dela tomaram parte. Tudo isso fez da insurreição escrava, na freguesia do Queimado, a mais importante ocorrida na província do Espírito Santo na época. A história da insurreição faz parte de um processo maior, que se configura na luta dos trabalhadores negros escravizados em busca de liberdade” argumenta.

 

Informações à imprensa:

Arquivo Público do Estado do Espírito Santo

Jória Motta Scolforo

3636-6117/99633-3558

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