31/03/2021 15h04 - Atualizado em 31/03/2021 15h30

História dos 57 anos da ditadura militar integra acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo

Ao todo, são 80 caixas de documentos da Delegacia de Ordem Política e Social do Estado do Espírito Santo, a DOPS/ES.

As ações e desdobramentos que ocorreram no dia 31 de março de 1964 e culminaram com a instauração de uma ditadura militar no Brasil completam, nesta quarta-feira (31), 57 anos. No acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES) é possível pesquisar uma parte significativa da história daquele período, trazendo à cena alguns dos fatos, imagens e relatos da época. Ao todo, encontram-se sob a guarda e preservação da instituição 80 caixas de documentos da Delegacia de Ordem Política eSocial do Estado do Espírito Santo (DOPS/ES). Há também, aproximadamente, 20 mil fichas de identificação.

O APEES iniciou, em dezembro de 2008, sua participação no projeto “Memórias Reveladas – Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil”, coordenado pelo Arquivo Nacional. O trabalho teve por objetivo organizar, catalogar, descrever, reproduzir e publicar em uma base de dados, via internet, a reprodução digital dos documentos produzidos pela DOPS/ES. O Fundo é constituído de correspondências recebidas e expedidas por órgãos da então Secretaria da Segurança Pública, assim como ordens de serviços, relatórios, ofícios internos e externos, informes, radiogramas, pedidos de busca, requerimentos, atestados de conduta ideológica, dossiês, depoimentos, inquéritos policiais, fotografias, jornais, livros, cartazes e panfletos.

Os materiais contêm informações sobre diferentes assuntos, como a investigação de pessoas, instituições públicas, privadas e religiosas, partidos políticos, sindicatos, organizações clandestinas, manifestações, atos públicos, eventos, eleições, movimentos grevistas e estudantis. Eles podem ser acessados e consultados on-line, por meio do link www.an.gov.br/mr.

De acordo com o professor do Departamento de História da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Pedro Ernesto Fagundes, os atuais estudos, nos outrora sigilosos arquivos da DOPS/ES, têm permitido o encontro dos pesquisadores com documentos de valor inestimável para a construção da memória política do Espírito Santo.

“A possibilidade de contato com os documentos das antigas DOPS estaduais tem contribuído para preencher importantes páginas, que até o momento encontravam-se em branco, de nossa história. No presente, a possiblidade de manuseio e análise de tais fontes assume um papel relevante para a história política capixaba”, destaca Pedro Fagundes.

DOPS


Durante o governo de Getúlio Vargas, entre os anos de 1935 e 1937, foi organizada uma Delegacia de Segurança Política e Social, que visava à investigação e à vigilância dos movimentos de contestação do poder. No Espírito Santo, o surgimento ocorreu nos primeiros meses do governo provisório do interventor federal João Punaro Bley, com o objetivo de organizar uma polícia voltada à manutenção da ordem política e social, com jurisdição em todo o território capixaba. No governo constitucional de Vargas, o órgão foi elevado à categoria de Delegacia de Ordem Política e Social do Estado do Espírito Santo (DOPS/ES).

Entre 1964 e 1985, a DOPS exerceu relevante papel na permanência da ditadura militar, especialmente na contenção de qualquer ação contrária ao regime instaurado. Na época, a criação do Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Ordem Interna (DOI-CODI) intensificou e ampliou a produção de dados. O DOI/CODI agia como órgão de coordenação e planejamento. A incumbência era a vigilância, captura e interrogatório daqueles que contestavam a ditadura. A partir da redemocratização do País houve um esvaziamento das funções da delegacia até a sua completa extinção.

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