Jornais do acervo do Arquivo Público são disponibilizados online pela Biblioteca Nacional
Analisar a imprensa como força ativa e não apenas como um mero registro dos acontecimentos permite apreender a relevância dos jornais como fonte para a História. Os significados plurais dos textos, as estratégias para alcançar um público mais amplo e a forma como os leitores recebem as informações constituem-se importantes aspectos para refletir as sociedades do passado. Mais de 50 periódicos do acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES), da coleção “Imprensa Capixaba”, desde o ano de 1849, estão disponibilizados em versão online no site da Hemeroteca Digital Brasileira, da Biblioteca Nacional, facilitando e expandindo o acesso dos pesquisadores. A página pode ser consultada no endereço http://hemerotecadigital.bn.br/.
Dentre eles estão materiais muito procurados para estudos na sede do APEES: o “Estado do Espírito Santo”, que traz dados sobre os primeiros anos da República; “O Cachoeirano”, que aborda temas relativos ao período da escravidão; o “Comércio do Espírito Santo”, que destaca a economia capixaba; o “Correio da Victoria”, que permite traçar um panorama da política, da economia e das manifestações culturais e religiosas do século XIX; e a revista “Vida Capichaba”, com fotografias e os primeiros textos escritos e assinados por mulheres no Estado.
Imprensa Capixaba
No século XIX há no Brasil uma imprensa ainda incipiente. Os papéis impressos surgiram no país muito depois do que na Europa e outras partes da América. A imprensa se inicia de forma sistemática a partir de 1808, com a chegada da corte portuguesa e a instalação da tipografia da Impressão Régia. O primeiro periódico brasileiro foi “A Gazeta do Rio de Janeiro”, que tinha a função de divulgar os assuntos oficiais provenientes do Poder Imperial.
No Espírito Santo, segundo José Carlos Mattedi, no livro “Aspectos históricos da imprensa capixaba”, antes do aparecimento do primeiro jornal, em 1840, circulavam pelas ruas de Vitória apenas pasquins manuscritos. Com o advento do Império, os raros pasquins continuavam na capital enquanto uma série de jornais e revistas já aparecia em províncias como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Somente quando se tornou uma necessidade oficial dar publicidade às decisões do Executivo é que se inicia a imprensa capixaba. Essa preocupação mostra-se presente quando, em 1835, o presidente da Província encaminha um ofício ao Império reclamando a falta de uma tipografia na qual os atos da Assembleia pudessem ser impressos. Ela surge apenas em 1840, por iniciativa do alferes Ayres Vieira de Albuquerque Tovar, e nela é publicado o primeiro jornal capixaba, “O Estafeta”, que não passou da edição inaugural. A imprensa começa efetivamente com o “Correio da Victoria”, em 1849.
Os primeiros jornais capixabas, assim como grande parte dos periódicos brasileiros, tinham por característica a forte aproximação entre os redatores e a política. Segundo Mateddi, os impressos do Espírito Santo eram redigidos por bacharéis, com participação nas atividades partidárias da Província. Dentre os aspectos que se sobressaíam na imprensa local destacam-se a produção artesanal, o conteúdo idealista (escravistas ou abolicionistas, monarquistas ou republicanos) e a influência da literatura na escrita. Com isso, os principais partidos tinham os seus jornais, nos quais se davam as guerras de opiniões, sem preocupações com a imparcialidade ou a neutralidade. As notícias eram repletas de adjetivos, os textos apresentavam um cunho opinativo e os redatores cumpriam o papel de novos agentes culturais e políticos.
Apesar de ser imprescindível o cuidado, para não tratar os jornais como espelhos e reflexos não problemáticos de uma época - uma vez que a escrita traz as impressões e ideais dos seus autores - pode-se afirmar que os mesmos possuem relevantes informações, que permitem conhecer melhor as vivências, as relações sociais e o cotidiano dos capixabas no decorrer do tempo.