O Arquivo Público e a história da imigração italiana no Espírito Santo
Nesta sexta-feira (21) comemora-se o Dia Nacional do Imigrante Italiano. A data refere-se à chegada em 1874 da Expedição de Pietro Tabacchi ao Espírito Santo, evento que inaugura a imigração em massa de italianos para o Brasil. Ao todo foram 388 camponeses - trentinos e vênetos - que embarcaram no navio à vela “La Sofia” e chegaram à capital Vitória em busca de novas oportunidades, trabalhos e vivências. Grande parte da história da imigração italiana nas terras capixabas pode ser contada a partir dos documentos guardados pelo Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES).
Em 1995 a instituição criou o Projeto “Imigrantes Espírito Santo”, que utiliza o método de cruzamento de dados entre as diversas fontes disponíveis para cada imigrante. Um dos produtos gerados é o “Registro da Entrada do Imigrante”, um relatório que traz impressas todas as informações indexadas para cada estrangeiro que entrou no Espírito Santo, permitindo ao solicitante conhecer um pouco mais da história dos seus antepassados.
O projeto contempla os nomes de mais de 54 mil estrangeiros, dentre os quais 36.663 italianos. Destes, 34.920 desembarcaram no século XIX e se estabeleceram em diversos locais. Ao Núcleo de Timbuhy, em Santa Teresa, por exemplo, foram direcionadas 4.197 pessoas. As regiões da Itália que mais contribuíram foram: Vêneto (9.484); Lombardia (4.749); Trentino Alto-Adige (3.213); Emilia Romagna (2.416) e Piemonte (1.235). Os dados podem ser consultados no endereço eletrônico: http://www.ape.es.gov.br/imigrantes.
A imigração Italiana no Espírito Santo
A primeira expedição de italianos para o Espírito Santo foi batizada com o sobrenome do seu idealizador, Pietro Tabacchi. De acordo com o sociólogo Renzo M. Grosselli, no livro “Colônias Imperiais na Terra do Café”, da Coleção Canaã do APEES, Tabacchi era um italiano oriundo de Trento que já se encontrava no Espírito Santo desde o início da década de 1850, onde adquiriu uma fazenda no município de Santa Cruz (atual Aracruz). Ao observar o interesse do Brasil pela mão de obra europeia ele decidiu oferecer terras para os imigrantes em troca do direito de derrubar 3,5 mil jacarandás para exportação.
Após um longo período de negociação o Ministério da Agricultura autorizou a Província capixaba a firmar contrato com Tabacchi, que por sua vez enviou emissários ao Trentino (Tirol Italiano), à época sob o domínio austríaco, para capitanear famílias daquela região e do Vêneto. Assim, no dia 3 de janeiro, às 15 horas, partia do porto de Gênova o “La Sofia”. A chegada ao Espírito Santo ocorreu no dia 17 de fevereiro e o desembarque se prolongou até 27 do mesmo mês. Em 01 de março começou a viagem até o porto de Santa Cruz, em direção à propriedade de Tabacchi.
Foi a primeira expedição em massa de camponeses da Itália para o Espírito Santo e daria início à epopeia emigratória dos italianos para o Brasil. Porém, os colonos logo perceberam que foram enganados pelas falsas promessas de Tabacchi. Não havia terras preparadas e a situação nos alojamentos era caótica. Esses fatos, somados a uma difícil travessia pelo Atlântico, foram ingredientes que culminaram na primeira revolta. O descontentamento era grande e a rebelião só foi contida pela ação da força policial. Por outro lado, os imigrantes obtiveram informações sobre as colônias oficiais, nas quais teriam melhores condições de trabalho e a oportunidade de serem donos dos seus lotes.
A Expedição Tabacchi inaugura um novo movimento migratório. Desta vez, o foco dos agenciadores se concentra na península itálica, especialmente nas regiões norte-nordeste, de onde partiram aos milhares para diversos países do mundo e, em um número considerável, para o Brasil. A Itália recém-unificada era um país desconexo, com altas taxas demográficas e uma grande massa de desempregados. Sem alternativas, muitos viajaram para realizar o “sonho da América”. Em 1875 as partidas dos transatlânticos de Gênova e de outros portos da Europa se tornaram rotinas. No Espírito Santo ocorreu a entrada de 1.403 colonos nesse ano.
Verificou-se na época a necessidade de documentar oficialmente os procedimentos: ofícios, cartas, contratos, relatórios, listas de passageiros dos navios e hospedarias e passaportes. Com isso, os materiais gerados para o controle administrativo das ações referentes ao fluxo migratório, em suas diversas etapas, tornaram-se registros para o resgate da história de cada família e indivíduo. A memória esta guardada e preservada pelo APEES.