Os Botocudos e a história dos indígenas no Espírito Santo
Arquivo Público disponibiliza diversos documentos e fotografias sobre os primeiros habitantes do território capixaba.
O Dia da Resistência dos Povos Indígenas, lembrado nesta sexta-feira (19), rememora o “Primeiro Congresso Indigenista Interamericano” realizado no México, em 1940. No Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (Apees) diversos documentos e fotografias com a história dos indígenas do Estado.
Entre os materiais está o livro “Índios Botocudos do Espírito Santo no século XIX”, da Coleção Canaã do Apees, que apresenta um dos mais completos relatos sobre os Botocudos no território capixaba. O estudo foi publicado originalmente pelo alemão Paul Ehrenreich, em 1887, na Revista de Etnologia, da Sociedade Berlinense de Antropologia, Etnologia e História Primitiva.
Paul Ehrenreich conta, na obra, que durante a sua permanência de vários meses na região da mata virgem do Rio Doce, nas províncias do Espírito Santo e Minas Gerais, ele pôde entrar em contato com algumas das tribos botocudas do lugar. O objetivo era complementar os estudos anteriores com novas informações e olhares, utilizando métodos antropológicos. No livro, ao fazer a descrição etnológica dos botocudos, Ehrenreich ressalta, primeiramente, o seu aspecto de vida nômade pelas regiões das matas densas do Rio Doe e Mucuri. Ao comentar o visual destacou a boa estrutura física e a estatura mediana.
Sobre as alterações artificiais o pesquisador ressalta que a mais conhecida é a furação do lábio inferior e dos lóbulos das orelhas para colocar os discos de madeira, os botoques, enfeites produzidos com uma madeira muito leve de uma árvore conhecida popularmente como “barriguda”. “O lábio enfeitado fica estirado para frente na horizontal e nunca toca o lábio superior” descreve. Os cabelos costumam ser cortados com farpas afiadas de canos de taquara – uma gramínea nativa da América do Sul. A pintura do corpo era realizada quando existiam guerras e festejos e geralmente era feita com urucum. Dessa semente, eles produziam uma espécie de pasta que, após umedecida, fornecia uma tintura de vermelho intenso.
Quanto às moradias, o estudioso afirma que eram simples, feitas de pequenos troncos de madeira, colocadas enviesadas, atadas com cipós e cobertas com pedaços de palmeiras. Como camas de dormir, usavam folhas e também cinzas. O preparo do fogo era feito com uma espécie de broca de madeira. Com cera de abelha fabricavam tochas curtas. Também era comum o feitio de arcos e flechas, cuja produção era exclusiva dos homens. Os produtos artesanais das mulheres consistiam principalmente de trabalhos trançados, bolsas e sacos feitos de fibras, como as do bambu.
Ao abordar a vida social e familiar, o autor comenta que no topo de cada agrupamento se encontrava um cacique. Para esse posto era escolhido o homem mais corajoso e forte da tribo. Ele comandava as caçadas e as lutas, apaziguava as brigas e determinava os locais de repouso. Os alimentos obtidos eram distribuídos a todos os membros, assim como os presentes recebidos. Em ocasiões festivas, como uma vitória ou cumprimento a algum estranho, eles se reuniam à noite para dançar em volta da fogueira, formando um círculo em fileira na qual cada participante colocava seus braços na nuca do companheiro ao lado.
Sobre a sua vivência com os indígenas do Espírito Santo, afirma: “os Botocudos são, ainda hoje os senhores incontestáveis de suas florestas montanhosas, apesar de seu antigo território já ter sido muito restringido. Nas proximidades imediatas da costa, a apenas poucos dias de viagem de portos muito frequentados, estando alguns deles em espaço de plena florescência, uma parte da autêntica vida primitiva dos indígenas ficou preservada nas matas virgens entre o Rio Doce e Rio Pardo, de um modo como acreditamos existir somente bem no interior desse incrivelmente vasto continente”.
Segundo o historiador Julio Bentivoglio a narrativa de Paul Ehrenreich se situa entre o relato de viagem e um artigo de divulgação científica. Ela traz as marcas de uma literatura tradicional e conhecida que tinha ávidos leitores na Europa, curiosos da natureza e dos povos que habitavam regiões distantes a eles, em especial aqueles que eram exóticos ou primitivos. Nesse sentido, o interesse sobre os Botocudos era enorme, afinal, para muitos, eles eram considerados um dos grupos humanos que ainda permaneciam em seus estágios mais primitivos.
Álbum “Botocudos do Espírito Santo”
A obra “Índios Botocudos do Espírito Santo no século XIX” pode ser baixada gratuitamente clicando aqui [link:https://ape.es.gov.br/Media/ape/PDF/Livros/MIOLO_LivroIndiosBotocudos_Jun2014_041214.pdf. ]
Nela, além do relato do viajante Paul Ehrenreich, estão reproduzidas as 20 imagens que compõem o álbum “Botocudos do Espírito Santo” fotografadas por Walter Garbe, em 1909, nas proximidades do Rio Pancas. Os retratos permitem visualizar hábitos, práticas culturais e a vida cotidiana. Os originais foram encadernados pela Imprensa Oficial, em 1944, e doados ao Apees.
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