09/05/2016 15h34

Periódico do acervo do Arquivo Público é um dos pioneiros do jornalismo esportivo no Brasil

Na década de 1930 iniciou-se, no Rio de Janeiro, a publicação do "Jornal dos Sports", considerado o primeiro periódico exclusivamente dedicado aos esportes no Brasil. Porém, em 23 de outubro de 1915, já circulava no Espírito Santo um jornal com conteúdo voltado às competições esportivas. Denominado "O Sport", do qual se tem reproduzido em microfilmes apenas a primeira edição, ele faz parte do acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (Apees) e trata-se de um dos pioneiros da imprensa esportiva no país.

No jornal tinham espaço os principais esportes da época – as regatas e o futebol, e também notícias sobre os torneios, premiações e festividades dos clubes da cidade: o “Saldanha da Gama” e o “Álvares Cabral”. O periódico buscava - conforme consta no texto de apresentação - promover "a propaganda constante do desenvolvimento da cultura física do Espírito Santo" e elevar o esporte à importância que ele deveria ocupar nas atividades da juventude. De acordo com o jornal, a cidade de Vitória estava em um momento esportivo de brilhante prosperidade e a publicação tinha por objetivo prestar informações sobre as principais disputas e conquistas.

Futebol capixaba

Dentre as notícias veiculadas no periódico destacam-se, pela riqueza de detalhes da narrativa, as que informam sobre as partidas de futebol das equipes capixabas da época: o "Rio Branco", o "Vitória" e o “15 de Novembro”. O futebol, nesse período, começava a se expandir e atingir diversos segmentos sociais. Anteriormente, era um esporte voltado apenas aos cidadãos com melhores condições financeiras. As pesquisas indicam que o esporte chegou ao país em 1894, por meio do jovem Charles Miller, que foi estudar na Inglaterra e trouxe em sua bagagem, na volta ao Brasil, duas bolas de couro, com as quais apresentou o esporte aos seus amigos.

O primeiro time capixaba foi o Vitória Futebol Clube, fundado no dia 1° de outubro de 1912. Segundo dados do site oficial da equipe as primeiras partidas no Espírito Santo ocorriam por diversão em campos improvisados. Nessa época dois dos participantes desses jogos estudavam no Rio de Janeiro e passavam férias em Vitória. Foram eles que trouxeram ao Estado informações sobre os jogos que estavam acontecendo no Rio de Janeiro e inspiraram a formação do time, que surgiu da primeira reunião feita pelo grupo. O Rio Branco, por sua vez, nasceu como “Juventude e Rigor” na data de 21 de junho de 1913. Pouco depois da sua fundação passou a se chamar Rio Branco Football Club, em homenagem ao diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco.

No periódico “O Sport” é informado que, em comemoração ao aniversário do “Vitoria”, havia sido realizado um jogo entre a equipe e o “Rio Branco”. Chama a atenção, ao longo do texto, e emprego de vocábulos estrangeiros, como no seguinte trecho: “Mesmo assim levou a palma o club Victoria, que consegui derrotar o seu adversário pelo score de 3 a 0”. São, na maioria, vocábulos ingleses, país no qual surgiu o esporte e as suas regras. No material discorre-se ainda sobre um amistoso entre o “15 de novembro” e o “Vitória”, realizado no bairro de Jucutuquara, que terminou com o placar de 5 a 2 para o “Vitória”.

As regatas

Segundo as informações do livro “Clube de Regatas Saldanha da Gama: lutas e glórias, 105 anos de Vitória”, o esporte náutico capixaba tem sua origem nas regatas do dia de Santa Catarina, que ocorriam sempre na data de 25 de novembro. A regata era disputada por duas embarcações: a dos caramurus e a dos peroás. Com a fundação dos clubes “Álvares Cabral” e “Saldanha da Gama”, o primeiro em 06 de julho de 1902 e o segundo em 29 de julho do mesmo ano, as competições se fortaleceram e passaram a ter um caráter esportivo. O Espírito Santo, por muitos anos, foi referência nacional nos esportes náuticos, principalmente nas décadas de 1920 a 1930, sendo que os dois clubes ganharam diversos títulos e mantinham uma grande rivalidade.

No periódico “O Sport” aborda-se as disputas empreendidas pelos clubes no remo e na natação, com a descrição do quantitativo e cores das medalhas conquistadas. O tema é destaque no jornal, que afirma: “A nossa reportagem, que não dorme, soube que, além dos páreos a serem disputados intimamente, haverá dois interclubes, sendo um de novíssimos e outro de novos, em canoas e yoles, para os quais já se devem ir prevendo os concorrentes prováveis”. E completam dizendo que já obtiveram a promessa de serem os divulgadores da surpresa.

Consulta

Por meio da escrita do periódico é possível conhecer melhor o início das competições esportivas capixabas, a importância das mesmas para a comunidade local e as relações sociais propiciadas pelo cotidiano dos principais clubes. O material, e outros 71 periódicos de 13 municípios do Espírito Santo, encontra-se no acervo “Imprensa Capixaba”, do Arquivo Público, e pode ser consultado no site http://www.ape.es.gov.br/imprensa_capixaba/index.html ou em visita à Instituição, em sua nova sede, à rua Sete de Setembro, 414, Centro.

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