Viva a República Federal Brasileira: Jornais do século XIX anunciam a Proclamação
Na manhã do dia 15 de novembro de 1889 o marechal Deodoro da Fonseca anuncia no Rio de Janeiro a Proclamação da República e a instituição de um Governo Provisório no Brasil. A notícia chega a Vitória no mesmo dia. Na capital não se observam manifestações ou grandes comoções pelo fato. Porém, em uma vila capixaba, os republicanos comemoram, realizam passeatas, afixam a informação na porta da estação telegráfica e a população se agita. O local é a Vila de São Pedro de Cachoeiro de Itapemirim, que centralizou a campanha republicana no Espírito Santo. “O Cachoeirano”, periódico que faz parte do acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES), traz no dia 18 de novembro de 1889 uma edição especial exaltando a nova situação política brasileira.
Os historiadores Regina Rodrigues Hees e Sebastião Pimental Franco, no livro “A República e o Espírito Santo”, destacam que a divulgação das ideias republicanas no Estado ocorreu principalmente por meio da imprensa e dos clubes. O primeiro deles surgiu no dia 23 de maio de 1887 em Cachoeiro de Itapemirim. “Esses clubes realizavam conferências abordando temas diversos, como sistemas de governo, os partidos políticos e a oportunidade da República (...)”. O município sediou ainda o Congresso Republicano Provincial em 1888.
Na obra os autores ressaltam os caminhos que levaram ao fim do império. O Brasil, e em particular o Espírito Santo, passavam por profundas transformações provocadas, sobretudo, pela produção de café. Na época Cachoeiro de Itapemirim era uma forte referência na economia capixaba devido às suas lavouras e ao seu porto fluvial, responsável pelo escoamento.
“Acelerou-se o processo de urbanização, houve a expansão do comércio e da indústria e a agricultura tradicional do Vale do Paraíba e nordestina estava em fase de plena decadência. A província de São Paulo começava a se transformar no centro econômico do país, caminhando para suplantar até mesmo a capital do império, o Rio de Janeiro. Com isso, o país e as elites passaram a desejar mudanças e é com o projeto dos republicanos que mais se identificavam” argumentam. Um dos principais pontos favoráveis à República era a proposta de instalação do federalismo, que garantiria uma maior autonomia às províncias e municípios, em contraste com o centralismo do Império.
O Cachoeirano
“Caiu afinal a hydra da monarchia: Viva a República Brasileira! Viva o Governo Provisório”, bradava a edição especial do “O Cachoeirano”. Nela publicaram-se os telegramas e boletins recebidos pelo periódico: “A todas as redações do Brasil: A câmara municipal desta cidade, reunida em sessão, aclama unanimemente a República dos Estados Unidos do Brasil, reconhecendo o Governo Provisório”. Divulga ainda a circular da Proclamação: “O povo, exército, armada nacional, em perfeita comunhão, sentimentos com os concidadãos residentes na Província, acabam de decretar a deposição da dinastia imperial, consequentemente do sistema monárquico representativo (...)”.
No jornal do dia 28 de novembro de 1889 o tema continua a ser discutido. São expostos o decreto do Governo Provisório e a mensagem dirigida a Dom Pedro II pelo marechal Deodoro da Fonseca. Descrevem-se também as festividades ocorridas, mostrando a força das ações republicanas na vila: “No dia 16 do corrente às 6 horas da manhã, depois de afixada na porta da estação telegráfica a circular que distribuímos em boletins e que já foi publicada em nossa edição especial do dia 18, imediatamente a banda de música Euterpe Cachoeirense reunida na casa do cidadão João Loyola, proprietário de ‘O Cachoeirano’ e um dos que muito trabalhou em prol da causa republicana (...) saiu a percorrer as ruas entoando a Marselheza ao espocar de inúmeros foguetes e entusiasmados vivas”.
O periódico, fundado em 7 de janeiro de 1877, por Luiz de Loyola e Silva, era o principal propagandista da República no Estado. Foi sob a redação de Bernardo Horta de Araújo, a partir de julho de 1888, que a publicação tornou-se a porta-voz dos republicanos. Era nela que eles divulgavam as ações para as mudanças do Governo e as convocatórias e resultados das reuniões dos clubes.
Coleção Imprensa Capixaba
A imprensa do Espírito Santo no século XIX, na qual “O Cachoeirano” se insere, é marcada pela expansão do público leitor, das tiragens e números de títulos. A política e os meios de comunicação conjugavam-se a serviço dos partidos, atrelados a grupos familiares, a interesses econômicos e afinidades intelectuais. Os jornais existiam enquanto força ativa na consolidação de posicionamentos e não apenas como mero registro de fatos. No site do APEES, no linkwww.ape.es.gov.br/imprensa_capixaba/index.html, pode-se ter acesso ao acervo “Imprensa Capixaba”. Ao todo são 72 periódicos de 13 municípios, publicados desde o ano de 1849.